11 de outubro de 2012

Vamos passear no inferno, deixa o menino queimar...

Por  Mano Crow †





Recebi uma chamada no celular. Não, não era engano, era o Chefe Insular. Dois passos para a esquerda, dois para a direita. Tirei o meu fone, chupei minha chupeta. Tinha missão. Seis da manhã é foda. Trampo de governo, mó perigo e mó nota. Era cedo, o aluguel não tava pago, me olhei no espelho. Mano, que estrago! Também, quem mandou eu chegar  ontem nas primas? Senti tesão, foi brincadeira. Elas não perdoam, te deixam só a caveira. Muito lixo no ar, muita vergonha no quadril. Sai de lá vazado, vai pra puta que pariu.

 Mas hoje é diferente e eu não posso vacilar, arrumei meu capacete, calculei tudo e pá. De lupa Google View, as mina arrepia. O air-bus veio vazio, vários lugar, várias tia. Sentei lá no fundão, tipo tempos de escola. Aê! Olha ele aí, professor pulava fora. Fui dando um cochilo que é pra mente descansar. O dia ia ser cheio, to firmão, vamo lá. Chegando no recinto um tiozinho veio em mim. Pediu credencial, eu já sabia, normal. Mostrei o cano pro irmão. Posso subir, cuzão? Funcionário do governo, pique de estilista, fui subindo as escadas, mascando umas birita.

Abri a porta nove, a maior loucura. A Neide caminhando. Mano, que cintura. Ela veio em mim com aquela voz adocicada. “Meu filho, vamo lá, eu to sem tempo pra nada”. Já veio me entregando o teclado e a lingüera. Eu já sabia, hã, missão na geladeira. Nem liguei, mó fita, eu já tava acostumado, aquela vagabunda nunca via o meu lado. Desci no 27, várias mina na esteira. “Ô, Crow! Que que é isso? Só chave da cadeia!”. Passei das carne fresca. Digitei os código, a porta se abriu, era ali, tava óbvio.

Uma geladeira, daquelas bem antiga, pique anos 50, vixi, mil fita. Tinha umas divisão, marmita, salada. Esfreguei a minha lupa e peguei as coordenada. Decodifiquei, passei pela marmelada, inacreditável, mas ela estava armada. Já veio lá debaixo espirrando cajuzinho. Aqui não, desviei, tipo Matrix, igualzinho. Arrumei minha bombeta, a lupa me indicou, era só mirar no coração e acabou. Me esquivei pra esquerda, carreguei minha lingüera, acertei a fodida bem no meio das teta. Háááááá. Não era você a foda e pá? Senhora dos iate, rainha do tomate? Agora ta escorrida num bolo de chocolate. Eu falei, mas ninguém escutou, não testa minha fé, que aqui não tem jow. Corpo fechado de Jorge, nem Jesus tenta a sorte. Treta malandragem, irmão, aqui é morte.

Acho que eu deixei as comidas ouriçadas, tipo aquelas mina quando vê coisa da Prada. Uma pá de ovo, lanche de salsicha, tinha até uns feijão querendo entrar na fita. E lá de cima, do segundo andar, várias batata frita querendo me pegar. Foi aí que eu pensei. Agora fodeu, avisa o Chefe Insular que a missão se escafedeu. Não, eu não, não luto por bacana. Chutei a prateleira e fugi com a minha grana. Sai vazado, fui mordido por um alho, vi uma porta aberta e pulei fora sem galho.


Várias ligação do Chefe Insular. “Ê Crow, seu vagabundo, polícia vai te pegar”. Ih, jão, já dei fuga, roubei uma cegonha, eu vô com os irmão é pra Fernando de Noronha. Já era, perdeu, otário vacilão, fica você com a Neide aí ouvindo um pancadão. Babaca de escritório, gravata borboleta, mexeu com a favela se fudeu, proxeneta. Parei lá na quebrada, vários truta sangue bom, só malandro clássico e mina de batom. “Sobe ae doidão, vai logo que tá osso. To sendo perseguido por uns mano cabuloso”.

Viagem demorada, muita droga pesada. Só assim pra aguentar, pique mano de estrada. Na BR 28 um veículo suspeito, entrou atrás da gente, piloto de respeito. Veio acelerando. Mano, que esculacho! Ligou as turbinas e voou para o espaço. “Ae Crow, cê num disse que já tinha despistado?”. “Mano, cala boca, senão eu te despacho”. Amigo bom não tem, só os que vêm na voadora, esfreguei a minha lupa, musa salvadora. Ligeira, malandra, me deu as coordenada, direita, esquerda a dez metros da estrada.

 Foi aí que eu vi. O portal, a bonança, tipo Silvio Santos na Porta da Esperança. Olhei para os lados, a cegonha comeu chão. A polícia tava longe, pelo espaço, foi em vão. Olhei pra trás, todo mundo zuado. “Eu dando essa fuga e vocês tudo chapado?”. Mas firmeza, tamo aí, de carnaval a carnaval, uma mão lava a outra, assim que é e tal. Eu vi uma luz branca, meio cor de rosa, saía do portal, salvação milagrosa. Meti o pé e acelerei, caminho à salvação, depois não vi mais nada, só aquele clarão.

"Irmão, fuja do caminho do mal, o caminho da ambição não te levará à glória. Fuja do homem violento, irmão!".

Abri os olhos, me assustei. Vários anjo em volta. Todo mundo morto, fúria, revolta. Um mano loiro estranhão, pique playboyzão, veio cheio de luz, começou me dar sermão. Procurei a minha arma, já queria atirar, mas, eles em fila começaram a voar. Cada um ia levando um mano meu nos braços. Peraí, to aqui, e agora que que eu faço? Um anjo me olhou, seu nome era Gabriel, ele falou pra mim “seu lugar não é no céu”. Vixi, aí fodeu, cheiro de enxofre e tal, acho que me dei mal. As portas do inferno se abriram, mil grau. Vi um tiozinho de chapéu, unha grande, quem diria? Hã, eu sabia, o diabo me queria.


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