A 36ª Mostra de Cinema Internacional de São Paulo foi
encerrada com classe. Para o último dia, foi organizado um evento a céu aberto
no Parque do Ibirapuera. Com trilha sonora tocada ao vivo pela Orquestra Petrobrás,
foi exibido o filme Nosferatu, do diretor Friedrich Wilhelm Murnau. O longa é
de 1922, mas a película utilizada na Mostra foi uma cópia restaurada com
correções de imagem. Para a apresentação, a orquestra tocou no palco do Auditório
e o filme foi projetado na parede, logo acima dos músicos. A plateia, que
juntou grande público, reuniu-se no gramado em frente espaço.
Do início ao final do filme, a orquestra tocou em total
sincronia com as imagens, estabelecendo um clima de suspense no local. A trilha
sonora, composta na época do filme por Hans Erdmann, foi conduzida pelo maestro
Pierre Oser. “Podemos dizer que o cinema mudo nunca foi de fato mudo, era
sempre apresentado com uma música. A diferença fundamental da música no cinema
mudo tem uma função dramatúrgica, com origem no teatro, na ópera”, afirmou o
regente em reportagem ao site oficial da Mostra. “Em 1929, havia em Berlim, nas
maiores salas de cinema, mais de 50 músicos para o acompanhamento dos filmes”,
completou.
Não haveria melhor clima para apresentação do filme. No
início da noite de dois de novembro de 2012, um clima frio se instalou na cidade e a chuva ameaçava cair,
contrastando com os dias quentes do início daquela semana. O vento gelado passeava
pela multidão sentada na grama, que bebia, fumava cigarros e usava drogas leves.
Os mais precavidos levaram mantas ou panos para sentar, viam-se grupos de
amigos, casais abraçados, garrafas de vinho, fios de fumaça, risadas e rostos surpresos a cada cena.
No meio do filme, alguns seres voadores passaram por cima do
público fazendo um barulho estranho. Junto ao clima sombrio e à música soturna,
os animais lembravam morcegos celebrando o rei Nosferatu, que reinava sobre seus
súditos nas alturas em que sua imagem era projetada. Na primeira aparição dos bichos, a multidão ameaçou uma salva de palmas. Depois, os vultos continuaram passeando pelos
céus, mas deram alguns rasantes no público, deixando algumas pessoas com medo
de ter seus pescoços sugados como o Hutter, agente imobiliário perseguido pelo Conde Orlok no filme.
Porém, como em todo evento público, existem as velhas
conversinhas paralelas, pessoas levantando o tempo todo e assoviando. Antes do
final do filme, ao menos umas 50 pessoas já tinham ido embora. Mas a maioria manteve-se
firme, mesmo trocando a posição do corpo várias vezes na grama. Ao fim da
apresentação, os mais de 20 mil presentes aplaudiram em pé a Orquestra Petrobrás e a obra de
Murnau.
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