Você me mandou uma carta, não uma tradicional, mas uma carta de pensamento e sonho. A textura era plástica, fundo amarelado e letras pretas, fonte sem arestas. Parecia fazer parte de um fichário rosado, algo de uma menina entre a adolescência e o tradicional adultismo precoce que só as meninas têm. Você era uma delas. A carta-sonho me veio como uma espécie de resposta sua aos meus pensamentos, dúvidas e a imensa vontade louca de acampar em frente à sua casa, devorada pelos seus nãos e por suas fugas. Da mesma forma que, às vezes, durante o início do sono, consigo te encontrar e encostar meu nariz no seu, quando meus olhos fechados enxergam a luz branca, um brilho que a tudo engloba, essa carta veio a mim por sermos irmãos de morte e de vida, por sermos peças únicas no espaço, entrelaçados ao redor do mundo. Você queria me informar, apenas me informar para que eu parasse de encher seu saco. Fez efeito.
Você sabe coisas sobre mim, como? Hum. Internet. Ok. Você sempre foi uma boa investigadora. Assim, como eu precisava saber de notícias suas, você me mandou. Na carta-pensamento, havia alguns desenhos de árvores. Você me disse que está namorando e está bem, e que seu namorado comprou um quintal (que eu entendo como terreno) e que vocês dois estão batalhando para construir uma casa ali juntos. Você criticou meus textos, me disse para que eu tomasse cuidado com a utilização dos algarismos romanos. Imagino você lendo algo que escrevi e me chamando de burro. Estou tentando lembrar de mais detalhes, mas eles não me vêm à mente, sendo que estavam tão claros há um mês, quando eu nem pensava em escrever esse texto.
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