25 de maio de 2012

XICO SÁ - Monalisa é corintiana

Como secar o time da musa? Tentei, mas pensava naquele rostinho. Linda, linda, linda


Amigo torcedor, amigo secador, o meu agourento corvo Edgar fez um pacto com o gavião, só sendo, mas isso é o de menos, o que me interessa é essa coisa de amor e futebol, para alguns inconciliável, para mim, vida simples: primeiro a mulher, depois o time. Quem achar o contrário que levante o dedo ou cale-se para sempre.

Não sou Corinthians, embora admire muito, na qualidade de cronista de costumes, a capacidade de um time mudar a cara ranzinza de São Paulo com um triunfo, isso é bonito, repito: o café vem mais quente e a cerveja, mais gelada no dia seguinte. Eis o mantra que vi, ouvi, quando aqui cheguei, no sorriso do Marivas, um ex-boy desta Folha que, com a bravura do sangue baiano, virou um ótimo jornalista. Corintianíssimo, guerreiro de Irecê, terra do feijão e do sonho, meu velho Orígenes Lessa.

Mas falaria de outra coisa. Pause. Não posso conhecer ou amar mulheres que torcem por outros times. Caio feito um patinho no conto delas. Um patinho sob a mira no parque de diversões.

Como não pensar que Aline sofria nas arquibancadas de Pacaembu anteontem, embora eu estivesse distante?! Só pensava nos seus novos óculos à Johnny Depp nos filmes de Jim Jarmusch. Linda! Que não molhe essas lentes com lágrimas futebolísticas.

Não queria, jamais, que minha enfermeira corintiana, minha Monalisa do Ipiranga, desabasse qual uma Maysa ludopédica, meu mundo caiu nas Américas.

Como secar o time da musa?

Tentei, mas pensava sempre no seu rostinho de Hollywood anos 40. Linda, linda, linda.

Não consegui o requinte dessa perversão, amigo. Primeiro sempre as damas, mesmo na saída do Titanic.

Fiquei vendo o jogo na solidão de um quarto de hotel em Petrolina, meu corvo Edgar ao longe na indecifrável aliança gavionística, e eu pensando nela. Logo mais pegaria um voo para São Paulo e a queria como nunca.
Por um momento pensei em uma suposta vantagem sentimental: ela estaria mais triste e careceria de um ombro. Não. Aqueles olhinhos já nasceram melancólicos. Que Aline sorria sob os holofotes do Pacaembu e volte para casa com a esperança de sempre salvar vidas ou produzir artes -sua nova mania, coisa única.
Cheguei e ela desabou na cama de tanta adrenalina. Nem deu tempo dar os parabéns pela vitória do seu time. Só deu tempo da gente ser feliz para sempre até que a Libertadores nos separe.

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